sábado, 28 de junho de 2008

Tecnologias que auxiliam na constituição de sujeitos de conhecimento

No texto “Linguagem e telemática: tecnologias para inventar-construir conhecimento”, extraído do livro Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Lévy (2000), a doutora em Educação Margarete Axt, ressalta o lado construtivo das novas tecnologias e seu potencial para provocar mudanças em benefício da sociedade. Neste contexto a autora considera a linguagem e a cognição como tecnologias produzidas pela subjetividade e fontes de novos agenciamentos na relação homem-máquina, sendo um de seus produtos a capacidade do homem inventar-construir conhecimento. Ao embasar seu raciocínio em Piaget (1978), Lévy (1994) e o Charaudeau (1983), Axt observou um grupo de professores-supervisores em um curso de pós-graduação. Ela acompanhou, entre outros aspectos, a Circunstância de Discurso (CD) e a interação múltipla-simultânea e mediatizada no tempo. Nesses campos, aparecem a relação professor-aluno-colegas num ambiente de Rede e a distância. A comunicação se dá pelo dito e também pelo não-dito, que são os sentimentos, as análises, os pensamentos que afloram na imaginação enquanto a resposta dentro do processo de interlocução não vem ou enquanto ela vai sendo confeccionada. No instante em que essa resposta aparece no ambiente em rede, seja de forma mediata (e-mail) ou imediata (teleconferências, chats, msg), surge a reciprocidade ou, como a autora explica, se dá vida a um pequeno lugar de encontro entre educador, educandos e o próprio processo de aprendizagem. Outro elemento em destaque nesse percurso é o hipertexto. É na busca dos significados do não-dito ou de melhores explicações sobre o dito que o hipertexto é montado pelo sujeito coletivo (cada um na rede compõe o todo). Assim, ocorre interação e a construção partilhada dos saberes. A produção em Rede promove diversas sugestões individuais. Os universos de discurso criados ora convergem, ora divergem. No entanto, são todos nós e ligações que elaboram uma tessitura reticulada, onde cada nó possibilita novas ligações. Na avaliação de Axt, dentro do contexto lingüístico telemático, toda mobilidade é reversível (que permite voltar e ser refeita). A partir desse processo, indica Axt, torna-se possível produzir-constituir sujeitos de conhecimento. Para tanto, as coisas não seguem mais o formato cartesiano, do organizadamente planejado e colocado. Vive-se a sociedade das incertezas, do aqui, agora e em todos os lugares. O especialista em Psicologia da Aprendizagem Juan Ignácio Pozo, no artigo "A sociedade da aprendizagem e o desafio de converter informação em conhecimento", menciona também o efeito da sociedade das incertezas. Ao direcionar seu raciocínio à educação, ele observa que, no ritmo da mudança tecnológica e científica da contemporaneidade, não se pode prever os conhecimentos que os cidadãos precisarão dominar daqui uma década ou duas para enfrentar as demandas sociais. É oportuno registrar algumas observações que os organizadores da obra, Nize Maria Campos Pellanda e Eduardo Campos Pellanda fazem, enfatizando que a quantidade de informações que virtualmente bate a nossa porta na via internet (grande metrópole mundial) e outras novas tecnologias de comunicação/conexão é a do dilúvio. Em certo instante, os organizadores chegam a assustar: "Na avalanche da informação, podemos perder tudo, começando pela identidade" (2000, p. 6). Ao mesmo tempo, porém, eles suavizam e sugerem uma saída: em meio aos céticos e pessimistas, que dizem que o homem corre o risco de ser substituído pelo computador, é preciso navegar. É um navegar acompanhando a maré do sistema e os seres que integram a Rede. Nessa navegação, é importante saber selecionar as informações essenciais, conforme suas metas, objetivos e intenções. Ressaltam ainda, que o dilema epistemológico da procura do fundamento interno ou externo é "resolvido na ação, na emergência" (2000, p. 7). Nesse contexto, frisam os autores, é possível ver os elementos que dão sentido à vida: interação, sinergia e amor. É uma nova cultura que surge, trazendo em seu bojo tanto apoiadores como contrários. Dela, Pierre Lévy é arauto e dispõe de seguidores. Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Lévy é uma amostra dessa nova cultura. A própria obra foi construída em rede, com a colaboração de estudiosos, entre os quais Margarete Axt. Referência PELLANDA, Nize Maria Campos e Carlos Eduardo Campos (Orgs). Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Lévy. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2000.

Nenhum comentário: